A
reportagem é de Cristian Klein e publicada pelo jornal Valor nesta quarta-feira (26).
Primeiro,
porque a suposta necessidade de mudar leis eleitorais quase sempre é utilizada
como senha para se desviar o foco do problema principal: a corrupção e a crise
de representação têm mais a ver com a cultura política e, no caso brasileiro, à
falta de fiscalização e lentidão da Justiça, do que com a legislação.
O
Brasil tem um sistema eleitoral similar ao da Finlândia, país com um dos
menores índices de percepção de corrupção – o que sugere que não estaríamos tão
mal.
Até
hoje, estudiosos não conseguiram comprovar a relação entre a malversação de
dinheiro público e regras eleitorais.
O
que falta é punição.
É
nesta direção que vai outra ideia de Dilma, a de tornar a corrupção um crime
hediondo.
Aumentar
os mecanismos de controle é outra solução.
Dá
mais trabalho, mas não apela à panaceia citada até pelo senador José Sarney
(PMDB-AP), ele mesmo um dos motivos do descontentamento na nação.
Em
segundo lugar, a reforma política provavelmente retomaria os termos propostos
pelo PT: o sistema de lista fechada, pelo qual o cidadão vota apenas em
partidos, e o financiamento público exclusivo de campanha.
Os
petistas são os maiores incentivadores da reforma.
Tentaram
aprová-la em 2007, 2009, 2011 e agora em 2013.
O
voto partidário favorece o PT.
Mas
como convencer a sociedade de que este é o melhor caminho depois que boa parte
dos milhões de manifestantes que foram às ruas mostraram descrédito em relação
aos partidos e aos políticos?
Na
Itália, um grande escândalo de corrupção no início dos anos 1990, revelado pela
Operação Mãos Limpas, levou a uma
reforma eleitoral contrária ao financiamento público dos partidos.
É
o que tende a ocorrer por aqui.
Os
protestos ganharam muitas bandeiras, mas nenhuma delas pediu mais dinheiro ou
voto só para as legendas.
Pelo
contrário.
O
fato é que as bandeiras do PT para a reforma política caíram em desgraça com a
onda de manifestações.
A
tendência é que a cotação do voto distrital – em baixa há cerca de uma década –
volte a subir.
Ele
aproxima o eleitor do deputado e do vereador, embora traga uma série de desvantagens.
Não
existe sistema eleitoral perfeito e há ainda os possíveis efeitos perversos.
Na
Itália, a reforma de 1993 abriu caminho para novas alterações que remendaram o
sistema até a criação da lei atual, chamada de "porcellum" ou
"porcata" (porcaria, em português).
O
distritão, apoiado por PP e PMDB há
dois anos, pode ser a nossa “porcata”.


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