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| Foto: Reprodução |
Joacir
Rufino de Aquino, economista, pesquisador e professor da Universidade do Estado
do RN (UERN); e, José Aldemir Freire, economista e chefe da Unidade Estadual do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) do RN, são autores do
artigo com o título “Exportações e Importações do Rio Grande do Norte: O
Retrato de uma Economia Subdesenvolvida”, que teve publicação nesta sexta-feira
(13) através do jornal O Mossoroense.
No
citado artigo, ambos fazem uma análise crítica dos números recentes da Balança
Comercial potiguar e destacam a necessidade de uma política de desenvolvimento
industrial para o estado.
O
texto, na íntegra, pode ser lido abaixo:
O Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) divulgou no início do corrente mês
os dados preliminares da balança comercial do Rio Grande do Norte (RN) referentes
a outubro, com destaque para as exportações que cresceram 73% em relação a
igual período do ano passado. Nos primeiros dez meses de 2015
(janeiro/outubro), de forma agregada, o estado já exportou um valor correspondente
a US$ 258,5 milhões, o que representa um acréscimo de 33% da cifra comparativamente
a 2014, quando as vendas externas somaram US$ 193,7 milhões.
A publicação dos
referidos números causou euforia no âmbito da imprensa estadual e de alguns
setores do governo ligados à área econômica. Argumentou-se que o RN estaria superando
a crise e ingressando em uma nova fase de crescimento. Entretanto, o bom desempenho
das vendas externas registrado até agora, motivado em grande medida pela desvalorização
recente do Real, não é motivo para nenhuma festa antecipada. Por conta disso, vale
a pena verificar com mais atenção os indicadores publicados para evitar
conclusões apressadas e até mesmo equivocadas.
É importante
anotar, em princípio, que o valor das exportações potiguares tem apresentado
grande dificuldade de expansão no período recente, ficando sempre abaixo do montante
registrado em 2008, quando a crise internacional abalou fortemente os
principais mercados compradores do mundo. Além desse aspecto, a balança
comercial norte-rio-grandense tem registrado déficits, ou seja, exportações
menores que as importações, em vários anos da série analisada (2010, 2013 e 2014).
Por outro lado,
não se deve esquecer que o RN é um estado primário-exportador que ainda ocupa
uma posição marginal no comércio internacional. Historicamente, exportamos produtos
agrícolas e minerais semimanufaturados e importamos bens intermediários e de capital
de maior valor agregado. Em 2014, por exemplo, nada menos do que 56% de nossas vendas
externas se resumiram a frutas frescas e castanhas de caju. Outra parte
significativa adveio da comercialização de óleo bruto, sal marinho, pescado, produtos
têxteis e minérios. Já as importações, que correspondem ao somatório das nossas
compras no exterior, se concentraram, como geralmente ocorre, em produtos
manufaturados, máquinas e equipamentos.
Isso significa
que muito mais do que mostrar uma suposta vantagem comparativa do RN a ser
comemorada, os dados do MDIC revelam uma base produtiva exportadora precária e uma
expressiva dependência tecnológica, características essenciais de economias subdesenvolvidas,
tal qual consta nas páginas de qualquer bom Manual de Ensino dedicado à matéria.
E o pior: a situação tende a se agravar, uma vez que a importação de produtos manufaturados
cresce anualmente, ocupando o espaço deixado pela indústria local. Assim, com a
nossa pauta de exportação atual, assentada em recursos naturais de baixo valor agregado,
é difícil avançar e superar o atraso que caracteriza a economia estadual.
O que fazer,
então, diante do quadro apresentado? Parece óbvio que o RN necessita aumentar suas
exportações tradicionais. Mas isso não é suficiente. O maior desafio do estado é
diversificar e agregar valor aos produtos comercializados por meio do
incremento da industrialização. Isso porque não adianta apenas exportar
contêineres e mais contêineres de melão a troco de um punhado de chips de
computador. Desde os anos 1950, os estudos pioneiros da Comissão Econômica para
América Latina e Caribe (CEPAL) apontam que o caminho mais viável para superar
a estrutura subdesenvolvida é o incentivo à indústria. Só assim, os países ou
regiões pobres podem melhorar seus termos de troca, exportando produtos de
maior valor agregado relativamente aos produtos primários oriundos da
agropecuária e do setor mineral.
Nesse sentido, o
exame apurado de nossas contas externas sinaliza que é preciso urgentemente a
formalização de uma política de desenvolvimento industrial capaz de aumentar a
competitividade da economia potiguar. Note-se que o fortalecimento da indústria
é um imperativo não só no que diz respeito ao setor exportador, mas à economia
do estado como um todo. Atualmente, basta uma visita rápida a qualquer
supermercado ou loja de departamento para perceber que boa parte dos produtos que
consumimos é proveniente de outros lugares fora do solo norte-rio-grandense. Dessa
forma, a integração e o adensamento das cadeias industriais locais e a atração
de novos segmentos produtivos, com destaque para as áreas de Ciência e
Tecnologia (C&T), energias renováveis e logística aeroportuária, figuram
como ações estratégicas visando reduzir a dependência de importações e melhorar
o saldo de nossas transações comerciais com o resto do mundo.


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